Patrimônio histórico
Os mistérios da Arte Cemiterial
Acervo tumular do Cemitério de Jaú está entre os poucos do Estado de São Paulo com potencial para visitação turística
Túmulos, ossos... Quando o assunto é cemitério, somos levados a pensar em várias coisas já presentes em nosso imaginário. A última delas é que a chamada “casa dos mortos” possa ser um roteiro artístico e cultural.
Pois é bem isso que está acontecendo no Cemitério Municipal Ana Rosa de Paula, localizado na Avenida Frederico Ozanan. Sob a orientação do historiador Júlio Polli, passeios guiados por entre os jazigos estão atraindo grupos de jovens, adultos e idosos, que se maravilham com as belas esculturas, o significado dos símbolos tumulares, as histórias de ilustres personagens, além de fatos curiosos sobre o local.
Para Polli, a arte cemiterial ou tumular está intrinsecamente ligada aos valores artísticos, culturais, sociais e econômicos de uma época. “O tipo de construção, o material empregado, os símbolos presentes nos túmulos e mauzoléus denotam a expressão de como a pessoa viveu num determinado tempo e espaço, fazendo deste recinto mais que um museu de arte a céu aberto, um verdadeiro patrimônio histórico que necessita ser preservado”, afirma o historiador. “A grande maioria dos sepulcros antigos, principalmente os de estilo capela, possuem traços relacionados ao estilo gótico. Apenas uma unidade tumular apresenta construção arquitetônica no moderno estilo art déco”, diz, fazendo referência à capela, onde se encontram enterrados os restos mortais de José Veríssimo Romão.
Signos da Morte
Anjos, colunas quebradas, tochas, guirlandas, âncoras e foices (ou ceifadeiras) estão entre os símbolos tumulares que podem ser encontrados no Cemitério de Jaú. Segundo o historiador jauense, cada peça possui um significado alusivo a interpretação que os familiares faziam da vida dos entes mortos. “Assim, a figura de anjos, apontando com a mão, em geral a direita, para o céu representam a crença de que o falecido tenha ido direto para o céu ou paraíso. Já o anjo pensativo mostra que a família não estava tão certa quanto à sua absolvição”, ele conta, ressaltando que as esculturas de anjos estão entre as mais numerosas do Cemitério de Jaú.
Também o fogo, símbolo da purificação, está presente em muitos sepulcros sob diversas formas. “Temos a chama de fogo que sai de uma urna, onde o fogo representa a destruição das forças do mal pela purificação e a urna, o símbolo do luto grego; as tochas possuem a mesma simbologia ligada à purificação, sendo que as tochas invertidas representam a morte, o sentido contrário da vida”, explica Polli.
Símbolo de solidez, estabilidade social e pessoal, as colunas chamam a atenção pela imponência que transmitem aos jazigos. Já as colunas quebradas são usadas para representar a morte de jovens e crianças, em alusão à vida que se quebrou. Segundo o historiador, por conta da ocorrência de vários túmulos com essa ornamentação numa mesma área do cemitério e por desconhecerem o significado dos símbolos funerários, circula uma lenda popular que conta que destroços de um avião teriam caído ali, acarretando na quebra de tais colunas.
Ramos de palmas, que simbolizam a ressureição, e as iniciais gregas do nome de Cristo XP (qui/rô) podem ser observadas em várias inscrições tumulares, indicando a religiosidade da família e a crença na salvação após a morte.
Outro símbolo que também é facilmente encontrado nas incursões pelo cemitério é a ampulheta, que remete à transitoriedade da vida, o tempo que se esvai. A ampulheta alada está ligada ao sentido do tempo que voa.
Arte Narrativa
Parte também do estudo da arte cemiterial, as narrativas constituem importantes registros sobre a vida dos mortos, revelando os seus feitos ou o caráter de suas relações sociais. Alguns túmulos apresentam inscrições com declarações de amor e saudades dos familiares, com homenagens póstumas ou poesias . Outros mostram biografias destacando o aspecto benfeitor do parente falecido.
Entre as surpresas que o Cemitério Municipal reserva estão inscrições tumulares em inglês e em árabe , provenientes de antigos imigrantes.
De tudo um pouco
O acervo tumular do Cemitério Municipal Ana Rosa de Paula ainda abriga obras de beleza estética apurada e constitui um dos poucos do Estado de São Paulo com potencial para visitação, de acordo com Júlio Polli. “É pena que, além do desgaste natural do tempo, esse nosso patrimônio histórico se encontre ameaçado pela ação humana”, diz ele fazendo referência aos atos de vandalismo e ao problema do déficit de vagas para enterro. Como não há mais áreas disponíveis muitos túmulos antigos já foram destruídos ou estão ameaçados de sê-lo para dar lugar os novos jazigos.
Fatos curiosos
Durante o passeio de quase três horas, nossa equipe de reportagem acompanhou o historiador pelas vielas estreitas do Cemitério Municipal – grande parte das ruas que davam acesso às quadras do local foram loteadas pelo problema do déficit de vagas para enterro – e se deparou com fatos, no mínimo, intrigantes.
Um deles é o caso Annita Toledo. Nascida em 27 de janeiro de 1910, ela veio a falecer em 11 de novembro 1922. Annita morreu jovem, sim. Até aí nada de anormal. O fato curioso é que ela se encontra em dois túmulos! Um praticamente atrás do outro!
Outro fato que nos chamou a atenção foi um jazigo em que o animal de estimação foi enterrado no jazigo da família Camargo. A cachorrinha “Lalis” possui inscrição com foto e tudo o mais. A cachorrinha faleceu aos 16 anos, em 24 de janeiro de 2009
O túmulo de Miguel Martins (5/3/1873 – 15/08/1950), com a imagem de uma caveira sobre a Bíblia, é um dos locais mais visitados do cemitério. O motivo: grande número de pessoas vêm até o túmulo fazer os seus pedidos, que crêem serem atendidos pelo falecido.
OBS MINHA : O Santo da Caveirinha é "São Gabriel da Virgem Dolorosa"
ERRATA: A cadelinha "Lalis" não esta enterrada como informei a jornalista e sim apenas sua foto esta no túmulo, como uma forma de cultuar a memória do animal de estimação querido.
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS: Fernanda Élle e a Cléo Furquim. Vocês são demais!!
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