domingo, 19 de setembro de 2010

Ventos de agosto em Jaú


Realmente como disse Eurípides Martins Romão, depois da maravilha dos Ipês essa matéria escrita por Célio Teixeira Junior sobre as ditas árvores da vontade de chorar. Gostei muito desta visão pois era um desses que só via no mês de agosto, o vento, a poeira, a seca e as queimadas. Agosto tem muito mais que isso.

Foto de Waldete Cestari


O mês de agosto, o ipê amarelo e o aniversário de Jaú, por Célio Teixeira Júnior


Dizem que gosto não se discute e há gosto para tudo nesta vida. Muitos, por exemplo, não gostam do mês de agosto, pois dizem que é agoureiro. No meu tempo de infância era comum se dizer que agosto era o mês do cachorro louco. Além disso, agosto é um mês enfumaçado, normalmente seco, de ventos que cortam e assobiam, do pó cinzento que se levanta, de dias quentes e de noites frias. Neste mês a paisagem é tosca e há no ar uma espécie de nostalgia do inverno que se despede e anseio pelo romper da primavera que é coisa do mês que se avizinha.
Agosto seria realmente um mês sem graça se não fosse, a meu ver, o mês em que florescem os ipês. Não sei se isso vem de berço, de paixão cravejada na alma, de saudades de minha terra natal, de lembranças que tenho da infância ou de simples admiração por aquilo que realmente é digno de ser admirado. O fato é que ipês amarelos me fascinam, me encantam, causam-me deslumbramento e despertam em mim um sentimento de gratidão, de adoração ao Criador pelo seu capricho nesta obra prima.
Já parei na estrada para olhar ipês, já sai de casa para ter o prazer de admirá-los e já sonhei também com a cidade-jardim do porvir, onde as praças serão de ouro e os adornos de pedras preciosas e onde, quem sabe, haverá de ter uma alameda ou outra cheia de ipês, de chão salpicado das flores amarelas que serão também de riqueza igual ao ouro que cobre as praças. Talvez tudo isso não passe de devaneio, de quimera ou utopia. Prefiro, quem sabe, chamar de esperança, de sonho acalentado, de desejo guardado na alma que anseio um dia realizar.
Enquanto este dia não chega, faço, no meio do mês de agosto, uma reflexão. As flores do ipê são efêmeras. Elas se espalham pelas ruas, pelas praças, pelas estradas e avenidas. Mas logo não existirão mais. Serão varridas pelo vento, pelos garis e donas de casas. Quis a providência de Deus que fosse assim. Talvez para nos ensinar que tudo passa rapidamente e que nós “voamos”. Somos como a “folha que o vento dispersa”, ou, para fazer jus à nossa mensagem, como a flor do ipê que desparece. Mas quis também a providência de Deus que no mês de agosto, da florada dos ipês, a cidade de nossa morada fosse emancipada. Parabéns Jaú pelo seu aniversário.
No passado, como diz o hino, foi “a glória do cafezal, o marco do progresso que hoje mora em teu brasão”. Em dias atuais os canaviais circundam esta terra e movimentam sua economia. O peixe bravio deu nome à cidade. Como sugere o compositor, Jaú nasceu com a vocação de ser altaneira pela força e coragem do seu povo, de alçar voos pelo exemplo de seu filho ilustre. Mas eu me atrevo a dizer também que a cidade precisa sempre aprender a lição da flor do ipê. Falo assim porque há uma espécie de simbiose entre os dois: ambos “florescem” em agosto e a cidade aprende a lição da árvore que é tão bela. Cidades são feitas também de cores, matizes e poesia. Os seus magistrados devem reconhecer sua transitoriedade e procurar cultivar valores que saltem para vida eterna.
Espero que os cidadãos daqui plantem mais ipês e que façam com que os meses de agosto não sejam somente enfumaçados. Se temos que plantar cafezais e canaviais para nos enriquecer, que jamais nos esqueçamos da flor do ipê, pois a vida não é só comida, mas, como disse o poeta, “comida, diversão e arte”. Se é necessário fazer girar a economia, é necessário também cultivar sonhos, plantar esperança, servir de abrigo para alguém, fazer caminhos mais belos para os nossos pés e colorir a vida que, às vezes, é tão cinza. Aos filhos de Deus que moram aqui, lanço um desafio: floresçam como a flor do ipê, que não se importa com o estigma do mês de agosto, com a ausência da chuva que ainda não veio e com o vento que sopra com força. Talvez, quem sabe, agindo assim, no jardim onde Cristo espera os seus, ele os faça assentar debaixo de um dossel enfeitado de flores, das flores do ipê amarelo que floresce no mês de agosto, mês de aniversário da cidade de Jaú.

Célio Teixeira Júnior é pastor da igreja presbiteriana de Jaú.
revctj@uol.com.br

publicado no jornal Comércio do Jahu em 21 de agosto de 2010, Opinião/Artigos

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