Jornal Folha de São Paulo - 14 de abril de 2011
Hidroavião é sobrevivente único de seu tipo
DO ENVIADO A SÃO CARLOS
Um importante avião que foi salvo do abandono e do descaso é o hidroavião Jahú, que chegou a ter a madeira de suas asas comida por cupins. De 170 hidroaviões italianos Savoia-Marchetti S.55, o apelidado Jahú é o único e teimoso sobrevivente.
No texto acima o escritor preocupado apenas em desmistificar o hidroavião Jahú menciona o pioneirismo de outras aeronaves e pilotos sem maiores detalhes. Investigamos cada travessia para saber quem realmente foi pioneiro e assim constatamos o que segue:
A primeira travessia aérea transoceânica ocorreu em 1919 e saiu do continente americano rumo ao europeu. Começou no dia 08 de maio e terminou 23 dias depois em 31 de maio. Foi um voo tripulado realizado por pilotos americanos com escalas e para isso foram dispostos 21 navios na rota das aeronaves.
A segunda travessia e a primeira sem escalas ocorreu também em 1919, no dia 14 de junho e saiu do Canadá com destino na Irlanda, realizada por dois pilotos ingleses portanto outro voo tripulado.
As duas primeiras travessias saíram da America com destino a Europa, portanto o Atlântico Norte. Já o Atlântico Sul foi transposto na terceira travessia em 1922 por dois pilotos portugueses feitos com escalas. Utilizaram 5 aeronaves e três navios, partiram de Portugal em 30 de março e chegaram em 17 de junho no Rio de Janeiro. Foi a primeira travessia saindo da Europa rumo ao continente americano.
A quarta travessia foi realizada por um espanhol e sua equipe começando em 22 de janeiro de 1926 e terminando em 10 de fevereiro. Foi a segunda travessia do Atlântico Sul e a segunda vinda da Europa para a América.
A quinta travessia ocorreu em 13 de fevereiro de 1927 realizada por três italianos. Em 22 de fevereiro decolaram das ilhas do Cabo Verde e aterrissaram em Fernando de Noronha. Foi então a terceira travessia do Atlântico Sul e a segunda sem escalas (pelo menos no trajeto de travessia dos continentes).
Mais quatro pilotos portugueses se arriscam na travessia transoceânica e realizam a sexta passagem em 17 de março de 1927, sendo os primeiros a faze-lo a noite. Foi a terceira travessia sem escalas.
Eis que chega então a vez de nosso comandante João Ribeiro de Barros e seus auxiliares atravessarem o Atlântico no sétimo lugar. A façanha dos brasileiros aconteceu no dia 28 de abril de 1927, saindo de Porto Praia e chegando em Fernando de Noronha, tornou-se o primeiro americano a realizar a travessia sem escalas num voo tripulado (o segundo piloto americano a realiza-la), a quarta travessia sem escalas e a quarta da Europa para a America.
Neste momento é preciso analisar alguns fatores que justificam a alcunha de herói nacional dada ao jauense João Ribeiro de Barros. Nosso piloto começou o raide em 18 de outubro de 1926 e tinha-se planejado faze-lo em duas etapas. Ocorreu que João Ribeiro em pleno voo percebeu falhas no funcionamento do avião que indicava que o mesmo fora sabotado. Alem disso foi preso, traído e contraiu malaria. Os contratempos impostos ao nosso heróis, possibilitou que no período em que ficou arrumando seu avião e doente, dois aviões fizessem a travessia sem escalas. João Ribeiro de Barros não teve apoio algum do Brasil tendo que investir seus recursos próprios na empreita diferente dos demais pilotos que o fizeram com apoio de seus governos.
Finalizando, no mês seguinte, em 20 de maio de 1927 o norte americano Charles Lindbergh realizou a oitava travessia do Atlântico, a quinta sem escala e a primeira num voo solitário.
Foi então o terceiro piloto americano a realizar a travessia do Atlântico sem escalas e o segundo a faze-la sem escalas. O primeiro piloto americano foi o brasileiro João Ribeiro de Barros.
Julio Cesar Polli
Abaixo as 10 primeiras travessias aéreas transoceânicas.
1º
Em maio de 1919 pilotos americanos cruzaram o Atlântico partindo da “Estação Aero-naval de Rockaway” voando em um Hidroavião Navy-Curtiss NC-4, com a tripulação formada por: Ten. Walter Hinton e Ten. Elmer Fowler Stone, pilotos; Ten. Albert Cushing Read, comandante e navegador; Ten. James L. Breese e Ten. Eugene T. "Smokey" Rhoads, engenheiros de vôo e Herbert C. Rodd, operador de rádio. E pousaram em 23 dias após, em Plymouth, na Inglaterra no dia 31 de Maio.
Três aeronaves partiram, mas apenas uma concluiu a travessia e 21 navios foram dispostos na rota para guiar as aeronaves.
Hoje o NC-4 encontra-se exposto no Museu Naval em Pensacola, na Flórida.
O Primeiro voo Transatlântico da História da Aviação
Lisboa-Nova York realizado em 16 Maio de 1919 pelo Comandante Albert C. Read
Fernando M. Oliveira
Delegado Português da classe de Aerofilatelia na F.I.P.
Nas tertúlias aos sábados de tarde no Clube Filatélico de Portugal, o consócio e amigo Mário Dias apresentou-me um postal ilustrado Figura Nº1, colocando a questão se eu sabia algo acerca do assunto. Claro, na altura informei o nosso amigo sobre tudo que me veio à memória sobre o voo do NC4, mas posteriormente pensando melhor, resolvi fazer uma pesquisa mais profunda e elaborar um artigo para memória futura de forma a habilitar futuros coleccionadores. Este voo não transportou correio por isso o material relacionado com ele, não pode fazer parte de uma colecção de aerofilatelia, mas existe excelente material para uma classe aberta.
O postal ilustrado do nosso amigo Mário Dias mostra a fotografia do Hidroavião Navy-Curtiss NC4 amarando na baía da cidade de Ponta Delgada a 20 de Maio de 1919, depois de fazer o percurso cidade da Horta, ilha de São Miguel.
O hidroavião NC4 fazia parte de uma esquadrilha de três hidroaviões composta pelo NC1 e o NC3, e pertenciam à U.S.Navy que se propunha fazer a travessia do Atlântico Norte, voando de New York para o Canadá, partindo de Trepassey Bay (Terra Nova) directamente para a Europa, escalando os Açores. Havia um premio de 10.000 £ibras instituído pelo jornal “Daily Mail” para quem conseguisse levar acabo a proeza.
John Towers um dos principais cérebros do empreendimento tinha elaborado um plano de voo, o qual se socorria ao uso de 22 navios da Marinha que seriam colocados ao longo do percurso da primeira etapa, distanciados de cerca de 50 milhas entre si, e equipados com holofotes que auxiliariam a navegação dos hidroaviões, dando indicação do rumo a seguir. Os hidroaviões dispunham de equipamento de rádio para comunicarem com os barcos e entre si.
Na preparação da viagem, estava prevista na primeira etapa uma escala em Ponta Delgada, e como amaragem alternativa a baía da cidade da Horta.
Após longos preparativos os hidroaviões partiram de Trepassey Bay pelas 18 horas do dia 16 de Maio de 1919. A primeira parte do percurso dos hidros a serem orientados pelos “destroyers” correu normalmente, até a aproximação da Ilha das Flores já de madrugada onde o “nevoeiro”, dado que não tinha sido previsto pela marinha americana, produziu os seus efeitos. Os hidroaviões com a visibilidade praticamente reduzida a zero e o combustível a chegar ao fim, os comandantes dos hidros NC1 e NC3 optaram por uma amaragem de emergência em pleno oceano, na esperança de serem localizados pelos”destroyers”. O hidroavião NC4 com o nome de”Liberty” comandado por ALbert C. Read cumprindo o plano de voo alcançou a baía da Horta onde amarou às 13.23 GMT, do dia seguinte.
O NC1 ao fazer a amaragem em pleno mar foi destruído por vagas alterosas e a sua tripulação recolhida pelo navio grego “IONIA” que os transportou para a cidade da Horta. O NC3 chegou a Ponta Delgada no limite da sua capacidade e em circunstâncias dramáticas. O hidro amarou a cerca de 200 milhas de Ponta Delgada e devido a avaria do emissor de Rádio, a tripulação não conseguiu contactar os “destroyers” de apoio sendo arrastado pela corrente ao sabor da mareta. Auxiliado por dois motores que ainda funcionavam, ao fim de 53 horas de navegação marítima o NC3 entra na baía de Ponta Delgada, com o comandante Jonh Towers e a tripulação exaustos e o hidro danificado incapaz de voar.
Jonh Towers é o primeiro piloto mundial a entrar com um hidroavião no porto de Ponta Delgada, uma vez que Albert C. Read e o NC4 se encontravam na cidade da Horta, mas o NC3 está de tal maneira danificado que não pode prosseguir a viagem até Lisboa.
O secretário de Estado da Marinha Americana Josephus Daniels envia mensagens de felicitações aos aviadores e sabendo que J. Towers não pode prosseguir devido ao NC3 se encontrar avariado dá ordens para que regresse de barco a Plymouth.
Read e o NC4 “Liberty” estacionados na cidade da Horta, aguardam condições atmosféricas mais favoráveis para partirem para Ponta Delgada, o que aconteceu no dia 20 de Maio de 1919 pelas 14.30 horas.
Após uma viagem de 1 hora 40 minutos, o comandante Read e os seus companheiros chegam a Ponta Delgada tendo uma recepção grandiosa por parte da população, igual à que foi dispensada a Jonh Towwers quando dias antes entrou no porto com o seu NC3.
Após uma longa paragem nos Açores devido ao mau tempo, Albert C. Read descola de Ponta Delgada para completar as últimas 800 milhas náuticas do projecto, continuando a socorrer-se da ajuda dos navios balizadores da U.S.Navy. Read chega a Lisboa ao fim de 11 dias aos comandos do seu trimotor NC4 “Liberty”, e assim completar a PRIMEIRA TRAVESSIA AÉREA DO ATLÂNTICO NORTE.
Fonte: http://www.cfportugal.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=102%3Ao-primeiro-voo-transatlantico-da-historia-da-aviacao&catid=22%3Aboletim-no-406&Itemid=15 acessado em 14 de abril de 2011.
O Capitão da RAF (Royal Air Force) John William Alcock e o Tenente, também da RAF, Arthur Whitten Brown, cruzaram o Atlântico em um avião bombardeiro Vickers Vimy modificado, partindo de St. John's, na Terra Nova, no Canadá, à 1h e 45m, do dia 14 de junho de 1919 e chegaram em Clifden, na Irlanda, no dia 15 de junho, num voo de 3.186 km feito em 16 horas e 12 minutos e ainda receberam um prêmio de 10.000 Libras das mãos de Winston Churchill oferecido pelo jornal londrino Daily Mail.
Vickers Vimy |
Aviadores britânicos John Alcock e Arthur Whitten Brown fez o primeiro non-stop vôo transatlântico , em Junho de 1919. (...) Alcock e Brown voaram num modificado Vickers Vimy bimotor bombardeiro IV alimentado por dois Rolls-Royce Eagle motores, cada um de 360 cv, decolando do Campo de Lester em St. John's ,Terra Nova, em torno de 01:45, 14 de junho de 1919.Quando em condições de má visibilidade errou um pântano como um campo de grama apropriada para a terra, as suas aeronaves tecnicamente caiu na aterrissagem, perto de Clifden em Connemara, Irlanda, as 8:40 de 15 de junho de 1919.
3º
O piloto português, Carlos Viegas Gago Coutinho, e o aviador Artur de Sacadura Freire Cabral, foram os pioneiros da aviação ao efetuarem a Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul, no hidroavião monomotor Fairey F III-D MkII chamado “Lusitânia”. Partiram de Lisboa, às 16:30h do dia 30 de março de 1922 e chegando em 17 de junho de 1922 pousando em frente à Ilha das Enxadas, nas águas da baía de Guanabara.
Mas para esta travessia foram usados nada menos do que três aviões, pois diversos acidentes ocorreram, e as aeronaves foram prontamente cedidas pelo governo português para que se cumprisse tal feito.
"Gago Coutinho ficou conhecido internacionalmente em 1922, ao realizar, também com Sacadura Cabral, a primeira viagem aérea entre a Europa e a América do Sul."
Fairey |
"Durante as comemorações do primeiro centenário da independência do Brasil, no ano de 1922, o governo português programa sensacional proeza aérea. Convocando dois de seus mais hábeis aviadores - Gago Coutinho e Sacadura Cabral - e utilizando-se de três aviões "Fairey" : Luzitânia, Santa Maria 1º e Santa Maria 2º e mais uma frota de navios dispostos ao longo do percurso, consegue efetuar o primeiro vôo transoceânico, ligando Portugal ao Brasil."
(Toscano, José Raphael -João Ribeiro de Barros, apontamentos históricos, pag. 11)
4º
O piloto espanhol, Ramón Franco, pilotou um Dornier-DO-J, o “Plus Ultra”, em 1926 num vôo transatlântico, partindo de Palos de la Frontera, na Espanha em 22 de janeiro e pousou em Buenos Aires, na Argentina em 26 de janeiro de 1926, passando por Gran Canária, Cabo verde, Pernambuco, Rio de Janeiro e Montevidéo completando uma jornada de 10.270 Km em 59 horas e 39 minutos.
O “Plus Ultra” encontra-se exposto no museu de Luján, na Argentina.
Dornier Do.j Wal |
Na noite de 16 para 17 de Março, o “Argos” ergueu-se dos mares da Guiné a caminho da Ilha de Fernando de Noronha, onde chegou após 18 horas e 12 minutos de um voo, onde mais uma vez o sextante desenvolvido por Gago Coutinho, marcou a exactidão do rumo.
Da ilha de Fernando de Noronha, partiram para o natal, depois Recife e a Baía, por fim o Rio de Janeiro, depois de percorrerem 9025 quilómetros em 58 horas e 5 minutos de voo.
Da ilha de Fernando de Noronha, partiram para o natal, depois Recife e a Baía, por fim o Rio de Janeiro, depois de percorrerem 9025 quilómetros em 58 horas e 5 minutos de voo.
5º
Em 13 de fevereiro de 1927, os italianos Francesco De Pinedo, Carlo del Prete e Vitale Zachetti, iniciaram a travessia do Atlântico, utilizando um Savoia Marchetti SM-55, batizado "Santa Maria".
Em 22 de fevereiro, o “Santa Maria” decolou das ilhas de Cabo Verde e amerissou em Fernando de Noronha após 15 horas de vôo.
No dia 29 de março de 1927, chegaram nos Estados Unidos, onde o “Santa Maria” foi completamente destruído em um incêndio, mas o governo Italiano forneceu outro para concluir a travessia de volta para a Itália.
Em 1927, com Carlo Del Prete e Vitale Zacchetti, partindo de Gênova voou em um Savoia-Marchetti S.55chamado Santa Maria ( em homenagem ao navio em que Cristóvão Colombo descobriu a América ) voou de Roma até Cabo Verde e sobre Buenos Aires, floresta amazônica e Arizona. No que ficou conhecido como o Reide das duas Américas.
6º
Os pilotos militares portugueses, José Manuel Sarmento de Beires e Duvalle Portugal, o navegador Jorge Castilho e o mecânico Manuel Gouveia, cruzaram primeiro em um vôo noturno sobre o Atlântico Sul em um Dornier-DO-J Wal, o “Argos”, cruzando o Atlântico da Guiné-Portuguesa (Bolama) e pousando em Fernando de Noronha, no Brasil em 17 de março de 1927.
O “Argos” se acidentou na costa do Pará, sendo totalmente destruído.
Em 1 de março de 1927 os portugueses Sarmento de Beires, Jorge de Castilho e Manuel Gouveia utilizam um Wal batizado "Argos", para uma viagem de Lisboa ao Brasil (Natal) onde chegaram a 18 de Março. A etapa mais impressionante desta viagem realizou-se entre a Guiné e Fernando Noronha, entre o fim da tarde de 16 de Março e a manhã seguinte, percorrendo os 2.595 km em 18 horas e 11 minutos, a maior parte das quais de noite, provando assim a validade do sistema de navegação desenvolvido por Gago Coutinho também para os voos aéreos noturnos.
7º
O piloto brasileiro João Ribeiro de Barros concluiu a travessia do Atlântico Sul, no dia 28 de abril de 1927, a bordo do hidroavião “JAHÚ”, partindo de Cabo Verde, na África e pousando nas proximidades da ilha de Fernando de Noronha. Juntamente com seus companheiros: Arthur Cunha, na primera fase da travessia, e depois João Negrão (co-pilotos), Newton Braga (navegador), e Vasco Cinquini (mecânico), partiram de Gênova, em Itália, fazendo escalas em Espanha, Gibraltar, Cabo Verde, e Fernando de Noronha e depois em Natal, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Santos e finalmente pousando na represa de Santo Amaro, em São Paulo.
O ”JAHÚ” encontra-se exposto no “Museu da Tam” na cidade de São Carlos – SP.
8º
O piloto norte-americano Charles Augustus Lindbergh partiu do Condado de Nassau, Estado de Nova Iorque, EUA, em 20 de maio de 1927, pousando em Paris, França, no dia seguinte. O avião usado por Lindbergh chamava-se "The Spirit of Saint Louis". O vôo de Lindbergh levou 33 horas e 31 minutos. Lindbergh recebeu o "Prêmio Orteig", de 25 mil dólares, em oferta desde 1919.
9º
Em 12 de abril de 1928 os pilotos alemães, Ehrenfried Günther Freiherr von Hünefeld e Hermann Köhl, voaram de Baldonnel na Irlanda com o avião “Bremen” pousando em Greenly Island na costa sul de Labrador, no Canadá, sendo os primeiros a fazer a travessia da Europa para a América do Norte
10º
O piloto alemão Wolfgang Von Gronau, iniciou o voo transatlântico em 18 de agosto de 1930 com o Dornier - Wal (D-1422), e estabeleceu a rota aérea norte sobre o Atlântico ( Sylt, na Alemanha – Iceland – Greenland – Labrador – Nova Yorque) percorrendo 4.670 milhas em 47 horas de vôo.
Agradecimentos especiais ao amigo e colaborador Alexandre Ricardo Batista
veja também sua página em
http://bndigital.bn.br/redememoria/jahu.htm