sábado, 30 de outubro de 2010

Dia de Finados II - outras manifestações culturais

La Catrina do México - esta bem que poderia ser uma noiva para a nossa "Caveirinha"...


No México a comemoração ao dia de Finados é diferente da nossa. Lá existe uma festa popular que é muito anterior a chegada dos espanhóis e de origem indígena. Mais uma vez buscamos no Wikipédia uma explicação rápida e simples para este dia.

No México, o Dia dos Mortos é uma celebração de origem indígena, que honra os defuntos no dia 2 de novembro. Começa no dia 1 de novembro e coincide com as tradições católicas do Dia dos Fiéis Defuntos e o Dia de Todos os Santos. Além do México, também é celebrada em outros países da América Central e em algumas regiões dos Estados Unidos, onde a população mexicana é grande. A UNESCO declarou-a como Patrimônio da Humanidade.

As origens da celebração no México são anteriores à chegada dos espanhóis. Há relatos que osastecas, maias, purépechas, náuatles e totonacas praticavam este culto. Os rituais que celebram a vida dos ancestrais se realizavam nestas civilizações pelo menos há três mil anos. Na era pré-hispânica era comum a prática de conservar os crânios como troféus, e mostrá-los durante os rituais que celebravam a morte e o renascimento.

O festival que se tornou o Dia dos Mortos era comemorado no nono mês do calendário solar asteca, por volta do início de agosto, e era celebrado por um mês completo. As festividades eram presididas pela deusa Mictecacíhuatl, conhecida como a "Dama da Morte" (do espanhol: Dama de la Muerte) - atualmente relacionada à La Catrina, personagem de José Guadalupe Posada - e esposa de Mictlantecuhtli, senhor do reino dos mortos. As festividades eram dedicadas às crianças e aos parentes falecidos.

É uma das festas mexicanas mais animadas, pois, segundo dizem, os mortos vêm visitar seus parentes. Ela é festejada com comida, bolos, festa, música e doces preferidos dos mortos, os preferidos das crianças são as caveirinhas de açúcar.

fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Festa_do_dia_dos_mortos



Nesta ocasião aproveitamos também para fazermos uma pequena reflexão sobre o que é a morte e se existe ou não vida além dela.




Dia de Finados - Origem

Santa Maria com Papoula - a flor representaria a morte.


Como parte de nosso estudo é voltado ao Cemitério de Jaú e as temáticas relacionadas, buscamos nesta ocasião onde celebramos o Dia dos Mortos fazer uma reflexão sobre as origens deste dia.
Mas de onde vem essa tradição?
Buscamos uma resposta imediatista na Wikipédia. Segundo essa biblioteca virtual:

O Dia dos Fiéis Defuntos, Dia dos Mortos ou Dia de Finados é celebrado pela Igreja Católica no dia 2 de novembro.
Desde o século II, alguns cristãos rezavam pelos falecidos, visitando os túmulos dos mártires para rezar pelos que morreram. No século V, a Igreja dedicava um dia do ano para rezar por todos os mortos, pelos quais ninguém rezava
e dos quais ninguém lembrava. Também o abade de Cluny, santo Odilon, em 998pedia aos monges que orassem pelos mortos. Desde o século XI os Papas Silvestre II (1009), João XVII(1009) e Leão IX (1015) obrigam a comunidade a dedicar um dia aos mortos. No século XIII esse dia anual passa a ser comemorado em 2 de novembro, porque 1 de novembro é a Festa de Todos os Santos. A doutrina católica evoca algumas passagens bíblicas para fundamentar sua posição (cf. Tobias12,12; 1,18-20; Mt 12,32 e II Macabeus 12,43-46), e se apóia em uma prática de quase dois mil anos.

Os Protestantes em geral, afirmam que a doutrina da Igreja Católica, que recomenda a oração pelos falecidos, é desprovida de fundamento bíblico. Segundo eles, a única referência a este tipo de prática estaria em II Macabeus 12,43-46. Porém os protestantes e evangélicos, pelo fato de serem, Ansinus in cathedra, não reconhecem a canonicidade deste livro e nem a legitimidade desta doutrina, uma vez que o Protestantismo não se submete às tradições católicas.

Segundo a interpretação protestante, a Bíblia diz que a salvação de uma pessoa depende única e exclusivamente da sua na graça salvadora que há em Cristo Jesus e que esta fé seja declarada durante sua vida na terra (Hebreus 7.24-27; Atos 4.12; 1 João 1.7-10) e que, após sua morte, a pessoa passa diretamente pelo juízo (Hebreus 9.27) e que vivos e mortos não podem comunicar-se de maneira alguma (Lucas 16.10-31).

Os Protestantes observam o dia de Finados para lembrar das coisas boas que os antepassados deixaram, como o legado de um caráter idôneo, por exemplo. Mas acreditam que as pessoas precisam ser cuidadas, unicamente, enquanto estão vivas.


Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_dos_Fi%C3%A9is_Defuntos


Le Jour des morts - pintura do Artista William Adolphe Bouquereau


Neste dia de finados em Jaú são esperados cerca de 25 a 30 mil pessoas.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Poemas de Hilda Hilst


Poemas aos Homens do nosso Tempo

de Hilda Hilst

Amada vida, minha morte demora.

Dizer que coisa ao homem,

Propor que viagem? Reis, ministros

E todos vós, políticos,

Que palavra além de ouro e treva

Fica em vossos ouvidos?

Além de vossa RAPACIDADE

O que sabeis

Da alma dos homens?

Ouro, conquista, lucro, logro

E os nossos ossos

E o sangue das gentes

E a vida dos homens

Entre os vossos dentes.

(Júbilo Memória Noviciado da Paixão(1974) - Poemas aos Homens do nosso Tempo - II

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Arte, Histórias e Versos no Cemitério de Jaú - um pouco de tudo...

Arte: A Santa Therezinha de Roque de Mingo no Cemitério Municipal de Jaú Ana Rosa de Paula.

(Quadra A, Rua I, nº 5)

Na obra de Roque de Mingo é possível perceber a semelhança da foto da Santa Therezinha e qualidade do artista em reproduzir com tamanha perfeição a mesma forma física da Santa (*) (Teresa de Liseux - Alençon, 2 de janeiro de 1873 - Liseux, 30 de setembron de 1897 - foi uma relisiosa carmelita francesa e Doutora da Igreja. É conhecida como Santa Tereza do Menino Jeus e da Santa Face ou, popularmente Santa Terezinha).

acesado em 29/09/2010

Versos : Mário Quintana escreveu sobre o Cemitério pelo menos dois versos que dizem respeito ao imaginário sobre a morte, um deles é este: (*)

Inscrição para um portão de cemitério

(Quadra A, Rua R)

Na mesma pedra se encontram conforme o povo traduz,
Quando se nasce uma estrela
Quando se morre uma cruz
Mas quantos que aqui repousam
Hão de nos emendar-nos assim,
"Ponha-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!..."

Mário Quintana

(*) A pedra é do Cemitério de Jaú


Histórias / Mitos: Viviane TufiK Curi


É tida como "santinha", "beata", pois realiza segundo a crença popular milagres. Viviane faleceu muito nova. Antigamente essas crianças novas falecidas eram chamadas de "anjos" pois não tiveram tempo nem de pecar, faleceram então sem pecados. Esses "anjos" poderiam interceder perante a família.
Em algumas sepulturas de anjos é possível ler o pedido da família pelo zelo do "anjinho" que retornou a pátria espiritual.


Histórias / Mitos : A estátua do "Túmulo da Caveirinha"

(Quadra B, Rua K, nº 34)

Muito se fala do "Túmulo da Caveirinha" mas nada, absolutamente nada sobre a imagem que a caveira faz parte. Trata-se de São Gabriel da Virgem Doloros (*vide biografia abaixo).
A Família de Miguel Di Martino (ou Martino), italiano que aportuguesou o nome como muitos dos nossos antepassados, faleceu Miguel Martins, era ótima pessoa sendo conhecido como "Miguelão". Miguel e sua esposa eram devotos deste santo desde os tempos da Itália. Quando ele faleceu sua esposa encomendou uma estátua do santo da qual a família é devota ainda hoje.
A família pede para o santo, o povo pede para a caveira.

(*) Nasceu no ano de 1838, na cidade de Assis, de família nobre. Embora tenha perdido muito cedo sua mãe, recebeu do pai ótima educação na fé e piedade. Seu nome de batismo era Francisco e era um jovem muito inteligente. Gostava de teatro, bailes e leitura de romances. Francisco estava com os pés, como que em duas canoas, já que piedoso e, muitas vezes, arrependido dos pecados, ainda dava brecha ao inimigo através de vaidades. Desde cedo era chamado ao sacerdócio, mas sempre ia deixando de lado seu chamado e suas promessas. Deus, porém ia batendo-lhe no coração, mas sempre resistia.
Foi atacado duas vezes por grave enfermidade. Prometeu entrar num convento, caso obtivesse a cura. A cura aconteceu, mas ele voltou atrás, até que aconteceu algo doloroso para ele: a morte de sua irmã Luisa, a quem tanto se dedicava. Esse fato feriu seu coração, deixando-o desiludido da vida. Foi durante uma procissão de Nossa Senhora da Glória, que sentiu na alma as palavras: “Francisco, o mundo não é para ti; Deus te quer no convento”. Deixou tudo para trás. Tomou o nome de Gabriel e consagrou-se a Deus. Enfrentou o sofrimento da tuberculose e preparou-se santamente para a morte, onde Deus o recolheu aos 24 anos de idade. Era o dia 27 de fevereiro de 1862. Milagres de cura aconteceram já durante o seu sepultamento. A vida de São Gabriel nos mostra claramente que Deus tem os seus caminhos quando põe os olhos num escolhido.

http://congregacaodagloria.blogspot.com/2009/06/5-sao-gabriel-da-virgem-dolorosa.html

acessado em 8 de setembro de 2010.

Versos / Histórias : Apolônio Hilst e o verso de sua filha em seu epitáfio.


De sua filha, Hilda Hilst para ele em seu epitáfio:


E ainda que as janelas

se fechem

meu pai é certo

que amanhece


De Apolônio Hilst sobre a liberdade:

É alta e loira.
E nem ouro e altura estilizada.
Orgulhosa e soberana,
tem pose, gestos, figura
e formas de escultura
parnasiana.
Mais nada.

De olhos cor da cinza, tristonhos,
olheiras, spleen ou sono,
não sei se filha dos meus sonhos
ou figura de abandono.
Dizem que tem uma paixão atlântica
por certo moço louro e nunca
lhe diz nada.
É uma balada
romântica.

Não sei da cor, não sei da altura,
não sei do gesto.
Há nela tal mistura
de traços, cor, formas, posturas,
chipre e sândalo
que a estes meus olhos de burguês honesto
é um escândalo
de formosura!
É a mais mulher por ser a mais artista:
um poema futurista...

sábado, 25 de setembro de 2010

Terceiro passeio noturno ao Cemitério Municipal Ana Rosa de Paula de Jaú em 25-09-2010

Eu e a estátua "Saudade" de Eugênio Prati

Apesar da frente fria que chegou em nossa região logo após as 12:00 h trazendo chuva e uma previsão não muito otimista de chuva a noite e pelo fim de semana a fora, tivemos o 3º passeio noturno ao Cemitério Ana Rosa de Paula de Jaú (SP).

Com participação estimada de 30 pessoas, a tour ocorreu sem nenhum transtorno. Além do ótimo publico, que não foi maior pela apreensão da chuva, a TV Record esteve presente e cobriu o evento.

Depois de trocarmos informações durante o passeio, quase no final, a Lua mostrou sua fase como a dizer "boa noite".

Ah! só para registrar, esta o maior calor e nem uma gota de chuva neste sábado até agora...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Patrimônio Histórico - Os mistérios da Arte Cemiterial de Jaú

Texto publicado na Revista Etapa nº81 ano X julho/agosto 2010, páginas 30 - 31 texto e fotos Fernanda Élle

Patrimônio histórico

Os mistérios da Arte Cemiterial

Acervo tumular do Cemitério de Jaú está entre os poucos do Estado de São Paulo com potencial para visitação turística

Túmulos, ossos... Quando o assunto é cemitério, somos levados a pensar em várias coisas já presentes em nosso imaginário. A última delas é que a chamada “casa dos mortos” possa ser um roteiro artístico e cultural.

Pois é bem isso que está acontecendo no Cemitério Municipal Ana Rosa de Paula, localizado na Avenida Frederico Ozanan. Sob a orientação do historiador Júlio Polli, passeios guiados por entre os jazigos estão atraindo grupos de jovens, adultos e idosos, que se maravilham com as belas esculturas, o significado dos símbolos tumulares, as histórias de ilustres personagens, além de fatos curiosos sobre o local.


Para Polli, a arte cemiterial ou tumular está intrinsecamente ligada aos valores artísticos, culturais, sociais e econômicos de uma época. “O tipo de construção, o material empregado, os símbolos presentes nos túmulos e mauzoléus denotam a expressão de como a pessoa viveu num determinado tempo e espaço, fazendo deste recinto mais que um museu de arte a céu aberto, um verdadeiro patrimônio histórico que necessita ser preservado”, afirma o historiador. “A grande maioria dos sepulcros antigos, principalmente os de estilo capela, possuem traços relacionados ao estilo gótico. Apenas uma unidade tumular apresenta construção arquitetônica no moderno estilo art déco”, diz, fazendo referência à capela, onde se encontram enterrados os restos mortais de José Veríssimo Romão.

Signos da Morte

Anjos, colunas quebradas, tochas, guirlandas, âncoras e foices (ou ceifadeiras) estão entre os símbolos tumulares que podem ser encontrados no Cemitério de Jaú. Segundo o historiador jauense, cada peça possui um significado alusivo a interpretação que os familiares faziam da vida dos entes mortos. “Assim, a figura de anjos, apontando com a mão, em geral a direita, para o céu representam a crença de que o falecido tenha ido direto para o céu ou paraíso. Já o anjo pensativo mostra que a família não estava tão certa quanto à sua absolvição”, ele conta, ressaltando que as esculturas de anjos estão entre as mais numerosas do Cemitério de Jaú.

Também o fogo, símbolo da purificação, está presente em muitos sepulcros sob diversas formas. “Temos a chama de fogo que sai de uma urna, onde o fogo representa a destruição das forças do mal pela purificação e a urna, o símbolo do luto grego; as tochas possuem a mesma simbologia ligada à purificação, sendo que as tochas invertidas representam a morte, o sentido contrário da vida”, explica Polli.

Símbolo de solidez, estabilidade social e pessoal, as colunas chamam a atenção pela imponência que transmitem aos jazigos. Já as colunas quebradas são usadas para representar a morte de jovens e crianças, em alusão à vida que se quebrou. Segundo o historiador, por conta da ocorrência de vários túmulos com essa ornamentação numa mesma área do cemitério e por desconhecerem o significado dos símbolos funerários, circula uma lenda popular que conta que destroços de um avião teriam caído ali, acarretando na quebra de tais colunas.

Ramos de palmas, que simbolizam a ressureição, e as iniciais gregas do nome de Cristo XP (qui/rô) podem ser observadas em várias inscrições tumulares, indicando a religiosidade da família e a crença na salvação após a morte.

Outro símbolo que também é facilmente encontrado nas incursões pelo cemitério é a ampulheta, que remete à transitoriedade da vida, o tempo que se esvai. A ampulheta alada está ligada ao sentido do tempo que voa.

Arte Narrativa

Parte também do estudo da arte cemiterial, as narrativas constituem importantes registros sobre a vida dos mortos, revelando os seus feitos ou o caráter de suas relações sociais. Alguns túmulos apresentam inscrições com declarações de amor e saudades dos familiares, com homenagens póstumas ou poesias . Outros mostram biografias destacando o aspecto benfeitor do parente falecido.

Entre as surpresas que o Cemitério Municipal reserva estão inscrições tumulares em inglês e em árabe , provenientes de antigos imigrantes.

De tudo um pouco

O acervo tumular do Cemitério Municipal Ana Rosa de Paula ainda abriga obras de beleza estética apurada e constitui um dos poucos do Estado de São Paulo com potencial para visitação, de acordo com Júlio Polli. “É pena que, além do desgaste natural do tempo, esse nosso patrimônio histórico se encontre ameaçado pela ação humana”, diz ele fazendo referência aos atos de vandalismo e ao problema do déficit de vagas para enterro. Como não há mais áreas disponíveis muitos túmulos antigos já foram destruídos ou estão ameaçados de sê-lo para dar lugar os novos jazigos.

Fatos curiosos

Durante o passeio de quase três horas, nossa equipe de reportagem acompanhou o historiador pelas vielas estreitas do Cemitério Municipal – grande parte das ruas que davam acesso às quadras do local foram loteadas pelo problema do déficit de vagas para enterro – e se deparou com fatos, no mínimo, intrigantes.

Um deles é o caso Annita Toledo. Nascida em 27 de janeiro de 1910, ela veio a falecer em 11 de novembro 1922. Annita morreu jovem, sim. Até aí nada de anormal. O fato curioso é que ela se encontra em dois túmulos! Um praticamente atrás do outro!

Outro fato que nos chamou a atenção foi um jazigo em que o animal de estimação foi enterrado no jazigo da família Camargo. A cachorrinha “Lalis” possui inscrição com foto e tudo o mais. A cachorrinha faleceu aos 16 anos, em 24 de janeiro de 2009

O túmulo de Miguel Martins (5/3/1873 – 15/08/1950), com a imagem de uma caveira sobre a Bíblia, é um dos locais mais visitados do cemitério. O motivo: grande número de pessoas vêm até o túmulo fazer os seus pedidos, que crêem serem atendidos pelo falecido.

OBS MINHA : O Santo da Caveirinha é "São Gabriel da Virgem Dolorosa"

ERRATA: A cadelinha "Lalis" não esta enterrada como informei a jornalista e sim apenas sua foto esta no túmulo, como uma forma de cultuar a memória do animal de estimação querido.

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS: Fernanda Élle e a Cléo Furquim. Vocês são demais!!

domingo, 19 de setembro de 2010

Ventos de agosto em Jaú


Realmente como disse Eurípides Martins Romão, depois da maravilha dos Ipês essa matéria escrita por Célio Teixeira Junior sobre as ditas árvores da vontade de chorar. Gostei muito desta visão pois era um desses que só via no mês de agosto, o vento, a poeira, a seca e as queimadas. Agosto tem muito mais que isso.

Foto de Waldete Cestari


O mês de agosto, o ipê amarelo e o aniversário de Jaú, por Célio Teixeira Júnior


Dizem que gosto não se discute e há gosto para tudo nesta vida. Muitos, por exemplo, não gostam do mês de agosto, pois dizem que é agoureiro. No meu tempo de infância era comum se dizer que agosto era o mês do cachorro louco. Além disso, agosto é um mês enfumaçado, normalmente seco, de ventos que cortam e assobiam, do pó cinzento que se levanta, de dias quentes e de noites frias. Neste mês a paisagem é tosca e há no ar uma espécie de nostalgia do inverno que se despede e anseio pelo romper da primavera que é coisa do mês que se avizinha.
Agosto seria realmente um mês sem graça se não fosse, a meu ver, o mês em que florescem os ipês. Não sei se isso vem de berço, de paixão cravejada na alma, de saudades de minha terra natal, de lembranças que tenho da infância ou de simples admiração por aquilo que realmente é digno de ser admirado. O fato é que ipês amarelos me fascinam, me encantam, causam-me deslumbramento e despertam em mim um sentimento de gratidão, de adoração ao Criador pelo seu capricho nesta obra prima.
Já parei na estrada para olhar ipês, já sai de casa para ter o prazer de admirá-los e já sonhei também com a cidade-jardim do porvir, onde as praças serão de ouro e os adornos de pedras preciosas e onde, quem sabe, haverá de ter uma alameda ou outra cheia de ipês, de chão salpicado das flores amarelas que serão também de riqueza igual ao ouro que cobre as praças. Talvez tudo isso não passe de devaneio, de quimera ou utopia. Prefiro, quem sabe, chamar de esperança, de sonho acalentado, de desejo guardado na alma que anseio um dia realizar.
Enquanto este dia não chega, faço, no meio do mês de agosto, uma reflexão. As flores do ipê são efêmeras. Elas se espalham pelas ruas, pelas praças, pelas estradas e avenidas. Mas logo não existirão mais. Serão varridas pelo vento, pelos garis e donas de casas. Quis a providência de Deus que fosse assim. Talvez para nos ensinar que tudo passa rapidamente e que nós “voamos”. Somos como a “folha que o vento dispersa”, ou, para fazer jus à nossa mensagem, como a flor do ipê que desparece. Mas quis também a providência de Deus que no mês de agosto, da florada dos ipês, a cidade de nossa morada fosse emancipada. Parabéns Jaú pelo seu aniversário.
No passado, como diz o hino, foi “a glória do cafezal, o marco do progresso que hoje mora em teu brasão”. Em dias atuais os canaviais circundam esta terra e movimentam sua economia. O peixe bravio deu nome à cidade. Como sugere o compositor, Jaú nasceu com a vocação de ser altaneira pela força e coragem do seu povo, de alçar voos pelo exemplo de seu filho ilustre. Mas eu me atrevo a dizer também que a cidade precisa sempre aprender a lição da flor do ipê. Falo assim porque há uma espécie de simbiose entre os dois: ambos “florescem” em agosto e a cidade aprende a lição da árvore que é tão bela. Cidades são feitas também de cores, matizes e poesia. Os seus magistrados devem reconhecer sua transitoriedade e procurar cultivar valores que saltem para vida eterna.
Espero que os cidadãos daqui plantem mais ipês e que façam com que os meses de agosto não sejam somente enfumaçados. Se temos que plantar cafezais e canaviais para nos enriquecer, que jamais nos esqueçamos da flor do ipê, pois a vida não é só comida, mas, como disse o poeta, “comida, diversão e arte”. Se é necessário fazer girar a economia, é necessário também cultivar sonhos, plantar esperança, servir de abrigo para alguém, fazer caminhos mais belos para os nossos pés e colorir a vida que, às vezes, é tão cinza. Aos filhos de Deus que moram aqui, lanço um desafio: floresçam como a flor do ipê, que não se importa com o estigma do mês de agosto, com a ausência da chuva que ainda não veio e com o vento que sopra com força. Talvez, quem sabe, agindo assim, no jardim onde Cristo espera os seus, ele os faça assentar debaixo de um dossel enfeitado de flores, das flores do ipê amarelo que floresce no mês de agosto, mês de aniversário da cidade de Jaú.

Célio Teixeira Júnior é pastor da igreja presbiteriana de Jaú.
revctj@uol.com.br

publicado no jornal Comércio do Jahu em 21 de agosto de 2010, Opinião/Artigos