sábado, 26 de junho de 2010

De volta as origens, por Maria Waldete de Oliveira Cestari

No dia 2 de junho, eu, meu marido e mais quarenta e duas pessoas, quinze delas de Jaú, iniciamos uma viagem de volta às nossas origens, às nossas raízes italianas, em um tour por algumas cidades da Itália: Roma, Assis, Veneza e Trento. Nesta última ficamos por dez dias para conhecermos bem de perto a região de onde vieram os ascendentes da grande maioria dos viajantes. No grupo havia também descendentes de vênetos, como nós, e de outras províncias italianas e todos foram recebidos como se fizessem parte de uma só família trentina.
A Província Autônoma de Trento se encontra no extremo norte da Itália, no início dos Alpes, em meio às montanhas Dolomitas. Desde a Antiguidade é uma passagem estratégica nos Alpes e nela se encontram as culturas italiana e alemã e a influência germânica pode ser notada em muitos sobrenomes, usos e costumes. Ela é mais intensa na Província Autônoma de Bolzano, que junto com a de Trento formam a Região Autônoma Trentino-Alto Adige/Südtirol.
O Trentino tem origem gaulesa e sua capital, Trento, é uma cidade importante desde o período romano, quando se chamava Tridentum, e é um dos marcos da conquista romana da Gália Cisalpina. Foi palco de disputa entre Itália e Áustria e por isso a região enfrentou muitas guerras. De 1814 até o final da Primeira Guerra Mundial ficou sob o domínio Austro-Húngaro, período em que cresceu um movimento de italianidade e nacionalismo na região.
No final do século 19, por vários motivos, entre eles a crise no setor agrário, houve uma grande imigração de trentinos para o Brasil em busca de melhores condições de vida. Calcula-se que vieram para cá trinta mil e hoje seus descendentes somam mais de três milhões, entre eles os Amancio, Angeli, Arlanch, Bauer, Bebber, Bernardi, Bertoldi, Cestari, Ciola, Coradi, Cirstofelitti, Dipietro, Ettore, Facchini, Ferraresi, Forti, Franceschi, Furlan, Gali, Giacomi, Girardelli, Laurentis, Leonardi, Lupo, Marchi, Mengon, Mosca, Mott, Negri, Orlandi, Pasqualini, Pedrini, Pegoretti, Pelegrini, Perini, Pompermayer, Pompeu, Pontalti, Recchia, Rossi, Sartori, Simioni, Spiller, Stenico, Tamanini, Trentino, Vendemiatti, Valentini, Vendrami, Zanoni, Zen, Zotelli, Zugliano.
O Trentino foi reincorporado à Itália em 10 de setembro de 1919, graças ao Tratado de Saint Germain-en-Laye. Aqueles que imigraram durante o domínio austro-húngaro eram considerados austríacos e por essa razão seus descendentes não tinham direito à cidadania italiana. Em 2000, o governo italiano concedeu o prazo de cinco anos, prorrogados por mais cinco, para que estes tivessem direito à cidadania e a requisitassem.
Nossa viagem teve muitos momentos emocionantes e desde o roteiro sugerido até apresentações especiais, ingressos a museus e tantas outras deferências foram proporcionadas pela Associazone Trentini nel Mondo, que nasceu em 1957 e é um instrumento de agregação para os imigrantes. Fomos recebidos pelo presidente Alberto Tafner, que prestou homenagem aos Circolos Trentini di Jaú, Piracicaba e Santa Olímpia; por Maurizio Tomasi, diretor da revista Trentini nel Mondo e por Débora e Laura, filhas de Rino Zandonai, que veio ao Brasil em 2009 como presidente da Associazone para fazer uma doação às vítimas das enchentes em Santa Catarina e morreu no acidente da Air France. Em vários momentos tivemos conosco a presença de Antonella Giordani (vereadora da cidade de Izera) e Martina Sartori, ambas do Servizio Emigrazione Provincia di Trento. Fazia parte de nosso grupo de viagem, Dr. José Eraldo Stenico, representante da Associazone Trentini nel Mondo no Brasil, Consultor da Provincia Autonoma di Trento para o Brasil Centro e Norte e presidente do Circolo Trentino de Piracicaba.
As belezas naturais dos vales, lagos, montes, vegetação; a paisagem montanhosa, os inúmeros castelos, as cidades medievais, o bom vinho, tudo isso somado à simpatia e simplicidade do povo faz do Trentino um lugar especial, mágico, esplendidamente belo e cativante.
Nos próximos textos contarei mais sobre detalhes da viagem e sobre essa região, principalmente sobre o seu profundo sentimento de preservação ambiental e patrimonial, a sua sincera e calorosa recepção aos descendentes dos imigrantes e dos emocionantes encontros que proporcionaram a eles, nas cidades de origem de seus antepassados.
Detalhes da viagem em http://amigosnaitalia2010.blogspot.com.

Publicado no Comércio do Jaú de 27-06-2010, quadro opinião

obs: belo resgate histórico Waldete, parabéns.

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